Me lembro de uma conversa com meus colegas quando estávamos no último dia da faculdade, onde o assunto era “Que curso você faria se tivesse saindo do ensino médio agora?”. Minha resposta: exatamente o curso que acabei de fazer. Mas nem todo mundo tem essa felicidade e, confesso, essa sorte que eu tive, pois eu sempre tive certeza do que eu queria fazer quando tivesse concluído o ensino médio, sempre fui apaixonado e fascinado por tecnologia, curioso em saber como as coisas funcionavam, foi então que comecei o curso de ciência da computação e logo em seguida fiz engenharia da computação talvez eu conte essa segunda experiencia em uma outra publicação. Nesse post, quero responder algumas dúvidas que tínhamos naquela época e que muitos tem ainda hoje. As respostas são curtas e objetivas, e às vezes cutucam o senso comum.
Esse post não é pra você se…
… você procura um “guia oficial de ciência da computação”, feito por “especialistas” e cheio de conteúdos bonitos mas que não te ajudam em nada. Esse post vai direto ao ponto e é baseado nas minhas próprias experiências como aluno e profissional, e tem o único objetivo de te ajudar a descobrir se ciência da computação é o curso certo para você. Vamos ao que interessa.
1. Preciso gostar de matemática?
Resposta curta: não. Mas você precisa no mínimo tolerar e entender a importância dela para a ciência da Computação. Nos primeiros anos, quase metade das matérias serão de matemática pura (as aplicações tendem a vir depois), como Cálculo, Álgebra Linear, Estatística, Matemática Discreta e Métodos Numéricos. Se você odeia matemática, recomendo procurar algum curso em humanas ou biológicas, mas definitivamente não ciência da Computação.
2. O que tenho que “chegar sabendo”?
Muitos vão te dizer que você precisa chegar sabendo um monte de coisa. Ter lógica de programação e uma boa base matemática ajuda, mas não é tão importante quanto dizem. Se você fez um ensino médio decente, você já tem o que precisa para começar. O que você já sabe apenas determina o quanto vai precisar estudar para acompanhar as primeiras matérias. Fiz ensino médio público, então nos primeiros meses estudei trigonometria básica fora das aulas para conseguir acompanhar Cálculo I. Se você não teve uma boa base no colégio, estude em dobro logo nos primeiros meses e compense a diferença. Sua capacidade de aprender é muito mais importante do que o que você já sabe.
3. Ciência da computação ou engenharia da computação?
É a pergunta mais clássica entre os vestibulandos que consideram Ciência da Computação para graduação. Antes de respondê-la, precisamos de algumas definições:
Ciência da Computação é a arte de usar matemática para computar. Nada mais, nada menos. Todo o resto deriva disso.
Engenharia da Computação é a arte de usar física para controlar sistemas computacionais.
Não entendeu nada? Não se desespere.
Em ciência da computação, você desenvolve algoritmos e sistemas para resolver problemas lógicos. Por exemplo, uma simples calculadora — que tem por objetivo fazer contas — ou o sistema de GPS de um carro. Os sistemas em si não necessariamente influenciam o mundo real, mas criam uma representação lógica de algo real dentro de um sistema.
Já a engenharia da computação usa sistemas computacionais para automatizar processos ou influenciar o mundo físico. Um engenheiro não faz o GPS do carro. Um engenheiro projeta o carro. Daí a necessidade de ter uma formação mais forte em física, pois um engenheiro precisa dominar conceitos de mecânica, cálculo avançado e física de materiais.
Agora, voltamos para pergunta original: fazer engenharia da computação ou ciência da computação?
Nenhum curso é melhor que outro, pois tudo depende do seu perfil. Você gosta mais de física do que matemática? Prefere trabalhar com coisas palpáveis do que com coisas abstratas? Se sim, siga pela engenharia da computação.
Mas se você se sente mais atraído pela matemática, se sente confortável com conceitos abstratos e prefere resolver problemas lógicos mesmo que eles não existam no mundo real, ciência da Computação é para você. Mas lembre-se: sempre é possível voltar atrás e reconsiderar sua escolha.
4. ciência da computação ou sistemas de informação?
Muitos acham os dois cursos tão similares que parecem a mesma coisa. Mas aqui vão duas verdades que ninguém diz com todas as letras:
1: Sistemas de informação e ciência da computação são completamente diferentes
2: Ciência da computação não tem nada a ver com computadores
Vamos direto para a mais polêmica. Computação e computadores são coisas diferentes. Se você quer aprender a “mexer” em computadores, dar manutenção neles ou ser especialista em algum software, ciência da computação vai ser uma perda de tempo. computação é um conceito matemático, e, antes de tudo, uma ciência. O curso é baseado em como fazer computação, enquanto que um computador é o que faz a computação. Apesar de relação, são coisas muito diferentes.
Mas como decidir entre sistemas de informação e ciência da computação ?
Sistemas de Informação é um curso menos teórico, com menos disciplinas de matemática e mais voltado pro mercado de trabalho, focando em como desenvolver sistemas e tecnologias. Alguém de sistemas de Informação usa Java para desenvolver um sistema de gestão de estoque de uma empresa. Alguém de ciência da computação desenvolve o Java. Se você prefere desenvolver e usar sistemas para fazer algo prático, independentemente da teoria por trás de tudo, sistemas de informação é mais sua cara.
5. Preciso estudar fora das aulas?
Sim, e como. Não espere aprender tudo somente nas aulas. Na verdade, as aulas são apenas um pequeno pedaço da graduação. Isso não significa que você deve estudar 24 horas por dia (vá para bares às sextas e você vai se arrepender), mas prepare-se para estudar bastante fora das aulas, principalmente nas matérias que tiver mais dificuldade ou que achar mais interessante. O que nos leva à próxima questão.
6. Posso trabalhar enquanto faço o curso?
Com certeza, mas te adianto que vai ter que sacrificar algumas noites de sono para estudar aquelas matérias e assuntos mais densos. Você está lá para estudar e essa é a prioridade. A experiência é importante para sua formação, mas não a ponto de sacrificar seus estudos. Estudei sempre a noite e trabalhei desde o primeiro semestre, perdi as contas das vezes que virei a noite estudando, e no dia seguinte ainda tinha que está no trabalho, alguns sacrifícios valem a pena.
7. Pública ou privada?
Nem sequer faça essa pergunta. Do ponto de vista financeiro, é possível fazer faculdade privada mesmo sem ter dinheiro (como Prouni ou FIES). A pergunta deve ser: qual a melhor instituição? Qual tem os melhores professores e melhor estrutura? Aqui vão algumas que sei que são ótimas em ciência da computação e engenharia da computação:
Públicas: UFAM, UEA.
Privadas: FUCAPI, UNINORTE, CIESA.
Leia as grades curriculares, depoimentos de alunos e currículo dos professores da universidade que você considerar. Não se limite às que eu mencionei, pois existem outras tão boas quanto que podem ser mais convenientes pra você.
8. Só quero desenvolver jogos. Devo fazer ciência da computação?
Você pode, mas não recomendo. Alguns cursos de computação tem disciplinas de jogos, mas nunca é o foco. Se você quer trabalhar com desenvolvimento de jogos, procure cursos focados nisso (a PUCSP tem um muito bom). Em Ciência da computação você vai passar 90% do tempo aprendendo coisas que não vão contribuir pro seu objetivo (embora possam fazer você mudar de ideia). Mas se você tem certeza, vá direto ao ponto sem passar por ciência da computação.
Ainda tem alguma dúvida sobre o curso ou quer complementar essa lista? Deixe seu comentário e ficarei feliz em tentar responder. Se preferir, pode me contatar pelo Instagram.
Bons estudos!